segunda-feira, 9 de julho de 2007

*Metade*







Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio...



que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca;



porque metade de mim é o que eu grito mas a outra metade é silêncio.



Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza,



que a mulher que amo seja pra sempre amada mesmo que distante porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade.



Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor



apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos... porque metade de mim é o que ouço mas a outra metade é o que calo.Que essa minha vontade de ir emborase transforme na calma e na paz que eu mereçoe que essa tensão que me corrói por dentroseja um dia recompensadaporque metade de mim é o que pensomas a outra metade é um vulcão.



Que o medo da solidão se afastee que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância;



porque metade de mim é a lembrança do que fuia outra metade não sei.



Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito



e que o teu silêncio me fale cada vez maisporque metade de mim é abrigo ,



mas a outra metade é cansaço...



Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção.



E que a minha loucura seja perdoada;



Porque metade de mim é amor e a outra metade também.






(Oswaldo Montenegro)

Nenhum comentário: